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Tuesday, November 12, 2013


Vinte e sete alunos tranquilos numa sala de aula a assistir a uma breve apresentação sobre o Palácio de Versalhes, e em mim a preocupação deixa-me o coração inquieto desconcentrando-me de modo crónico. Questiono-me quantos alunos como eu estão ali sentados de olhar fixo no orador simulando interesse e relaxamento. “Nenhum…” – sussurro baixinho. Uma, e só uma questão me leva a este estado ultimamente: “Será que sou capaz de situar onde te cobriram de descanso?” É claro que mais ninguém nesta sala estará a pensar em algo do género, e no fundo, ainda bem.
Após três anos sinto a necessidade de voltar ao local da despedida, o local em que encarei o destino e me mentalizei que o sorriso que eu gostava tanto já não existe mais, na Terra. Apercebi-me do quanto frágeis somos. Não passamos de meros piões da sorte e do acaso, daquilo que na realidade chamamos de “injustiça”. Não passamos de seres vivos no meio de tantos outros que tendem a achar-se especiais, a excepção, o ser “racional”. Este desejo de reviver todo o acontecimento pode parecer perturbador ou até mesmo sadomassoquista, mas para mim trata-se de visitar o local em que fui mais forte até hoje. Tenciono olhar para todo o acontecimento com o coração mais leve do que no derradeiro dia e, principalmente, pensar na pessoa que lá chegou e saiu diferente.
Tenciono percorrer o mesmo caminho silencioso, tal como fiz no meio daquela multidão à três anos atrás, imaginando todas aquelas pessoas a meu redor a contar excertos das peripécias dele como se ele fosse um herói. Infelizmente não era uma história gloriosa, era um anjo na Terra sem super-poderes… Contar os passos onde passou o caixão dele, carregado por quatro homens. Contar os passos devagarinho, recordar como foi engolir todo aquele sofrimento a seco, o meu e o de todo o ambiente a meu redor porque infelizmente tudo isso me perturba. Para mim qualquer ambiente tem uma fragrância, inodora, e é-me impossível não inalar e transformá-la em emoções. Pesada, vou dirigir-me onde à três anos já se encontrava aberta a porta dele no meio de tantas outras deixadas em descanso. Vou dirigir-me e acomodar-me onde se ele encontra actualmente, na sua nova morada, aquela que eu nunca tive coragem de voltar a visitar. E vou imaginá-lo ali, a meio metro a baixo do chão, de olhos fechados com uma expressão facial relaxada, onde os cantinhos dos lábios dele tendem levemente para cima esboçando O sorriso.

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