Cada vez me orgulho mais de ter sido excluída do agregado familiar todos estes anos. Orgulho-me de tudo o que me afastei e de nunca ter aceite parte dos valores impostos. Na altura custou-me, o castigo por não me converter passava por gritos, criticas; quando via seis olhos a apontar-me o dedo julgava-me má pessoa por não conseguir ser assim como eles. Eles eram os seis olhos de diamante e eu nem os tinha, no lugar deles existiam dois buracos negros.

Hoje tive mais uma prova de que tudo valeu a pena. A ausência de um membro da família fez com que a pressão daqueles valores diminuísse drasticamente. Agora somos três cá em casa, quatro olhos de diamante e os meus vazios, escuros. Com o tempo foi acontecendo algo caricato. Um par de olhos de diamante brilhou cada vez mais, como se dentro dele estivessem os outros dois olhos do membro em falta, e no outro par de diamantes foi-se acumulado pó, perdendo brilho.

O membro brilhante e fanático, como se de uma religião se tratasse, manteve a pressão sobre o par de diamantes menos brilhante. No entanto, a autoridade do mesmo não foi a suficiente e com o tempo o pouco brilho que existia no par de diamantes menos brilhante desvaneceu, dando agora lugar a dois buracos negros como os meus.